
Porto Velho RO- O trapézio da corda balançava sob o peso da história. Lepa Radić, 17 anos, encarava a morte com olhos que não conheciam medo. Os soldados esperavam gritos, implorações, um sinal de fraqueza. Mas o que receberam foi silêncio. E depois, palavras afiadas como lâminas:
“Não sou traidora do meu povo. Aqueles que vocês perguntam se revelarão quando tiverem destruído todos vocês, até o último homem.”
Ela era apenas uma adolescente, mas carregava o peso de toda uma nação.

Antes disso, Lepa corria pelos vilarejos e bosques da Herzegovina, onde nasceu. Começou sua resistência ainda criança, ajudando a esconder armas, mensagens e suprimentos para os Partisans — o movimento comunista que lutava contra a ocupação nazista na Iugoslávia. Com 15 anos, já carregava mochilas pesadas de explosivos, distribuía panfletos de propaganda anti-nazista e ajudava a recrutar outros jovens para a causa. Cada ação sua era arriscada: a menor suspeita poderia significar morte imediata.
Era pequena, mas sua determinação era gigante. Ela se movia com cuidado, sabendo que cada passo poderia ser o último, e mesmo assim não recuava. Em várias ocasiões, escapou de emboscadas, passando despercebida entre os soldados alemães, guiando civis para segurança, carregando armas e mensagens vitais. Sua coragem começou a se tornar conhecida entre os Partisans: Lepa não era apenas mensageira ou combatente, era símbolo de resistência viva, inspiração para todos ao seu redor.

Quando finalmente foi capturada, os nazistas tentaram quebrá-la com interrogatórios e ameaças. Ela não cedeu. Ofereceram-lhe a vida em troca de traição — o preço era a liberdade de seu corpo e a morte de sua integridade. Lepa permaneceu firme.
No instante final, a corda estalou, e o mundo pareceu encolher. Mas não para Lepa. Seu corpo podia ser vencido, mas sua coragem atravessou décadas. Seu legado se manteve vivo: escolas e ruas levaram seu nome, livros lembraram sua bravura, e sua história inspirou jovens a resistirem à injustiça e defenderem a liberdade. A existência dela, ainda que breve, tornou a luta pela dignidade e pelo direito de escolher um futuro mais justo algo possível para aqueles que vieram depois.
Nos dias de hoje, algumas pessoas poderiam chamá-la de terrorista. Mas o que define quando se luta pelo próprio ideal? Quando o ideal é a paz, quando a luta é por liberdade, quando você carrega a vida dos outros em seus ombros, a linha entre heroísmo e vilania se torna tênue — e é nesse espaço que Lepa Radić permanece, inquebrantável.
Por Fagner Oliveira
Por Fagner Oliveira
