Cantinho dos Contos. O Voo 305: O Eco do Tempo




Porto Velho RO - O silêncio na sala de controle do tráfego aéreo era absoluto, quebrado apenas pelo ruído estático dos alto-falantes. De repente, um sinal. Fraco, fantasmagórico, mas inconfundível. Um transponder que não era visto há décadas surgiu no radar como um sopro do passado. Era o Voo 305 da Pan Atlantic, desaparecido em 1985 sobre o Atlântico em um dia de céu claro. Agora, ele pulsava na tela, aproximando-se da costa como se nada tivesse acontecido.

Na torre, apenas o veterano controlador Eduardo reconheceu o código. Ele era um estagiário naquele dia fatídico. Trinta e cinco anos depois, um frio percorreu sua espinha. "Não pode ser", sussurrou, enquanto o pânico se instalava. Alertas foram acionados, caças foram mobilizados, mas a aeronave, um Boeing 727, não respondia. Ela simplesmente seguia seu curso, um fantasma de metal contra o céu crepuscular, até que, com um ruído abafado que mais se sentiu do que se ouviu, pousou sozinha em um campo aberto, intacta, mas envolta em uma aura estranha e opaca.

As primeiras equipes de resgate que adentraram a aeronave congelaram no limiar. Não havia cheiro de morte, apenas o mofo do tempo e um frio penetrante. A luz do entardecer filtrada pelas janelas iluminava uma cena de pesadelo congelada no tempo: 92 esqueletos perfeitamente acomodados em seus assentos. Os cintos, ainda afivelados. Copos de plástico murchos nas bandejas. Casacos de lã dos anos 80 nos bagageiros. Era uma cápsula do tempo macabra, um monumento a um momento interrompido.



A investigação oficial foi rápida e estéril. Os registros da caixa-preta eram inúteis; a gravação parava abruptamente em 1985, com o capitão dizendo: "O céu... está se abrindo". Os corpos, analisados, confirmaram a identidade dos passageiros e da tripulação, mas os ossos mostraram algo impossível: trinta e cinco anos de decomposição em um ambiente selado.

Mas a história não terminou aí. Nos bolsos dos casacos, encontraram objetos que não pertenciam a 1985. Um smartphone com a bateria inexoravelmente descarregada, sua tela quebrada refletindo um último selfie borrado de um passageiro, mostrando ao fundo, pela janela, não as nuvens, mas um céu noturno repleto de constelações desconhecidas. Encontraram também um diário de bordo, escrito pelo copiloto em uma caligrafia febril, que detalhava não 35 anos, mas 35 dias de um voo interminável através de um "mar de luzes e sombras", onde o tempo fluía de forma errática e criaturas feitas de pura energia eram avistadas nas asas.

A teoria mais aterrorizante, porém, veio de um filho de uma das vítimas, agora um físico quântico. Ele não acreditava em fantasmas ou aliens. Ele propôs a "Hipótese do Dobramento": o Voo 305 não atravessou o espaço, mas uma falha no tecido do tempo-espaço, um atalho cósmico que o levou a um lugar onde as regras da física são diferentes. Para o mundo, se passaram 35 anos. Para eles, foi uma viagem de um mês através de um universo paralelo, um deserto temporal onde seus corpos envelheceram décadas em semanas, consumidos por uma entropia acelerada.

O avião não caiu. Ele não explodiu. Ele simplesmente aterrissou no futuro, trazendo consigo o eco silencioso de sua jornada. Os 92 esqueletos não são apenas restos mortais; são a prova final de que existem abismos no céu que não podemos compreender, onde o tempo se torna um oceano traiçoeiro e um voo pode se tornar uma eternidade.

Nos meses que se seguiram, o Voo 305 foi rebocado para um hangar secreto, um sarcófago de metal guardado por soldados e por um silêncio pesado. As teorias da conspiração fervilharam e depois murcharam, sem novas informações. O mundo seguiu em frente, mas para alguns, a história estava longe de terminar.

Foi o Dr. Almeida, o físico quântico filho de uma das vítimas, quem descobriu o padrão final. Obcecado, ele passou noites em claro cruzando os dados do diário do copiloto com anomalias magnéticas e relatos históricos de desaparecimentos. Sua descoberta foi tão aterradora quanto a do avião em si.

O diário não descrevia apenas um deserto temporal. Descrevia um *ecossistema*. As "luzes e sombras" não eram fenômenos passivos; eram entidades que se alimentavam de tempo, e o avião havia sido uma intrusão, uma fonte de energia temporal repentina em seu habitat. A viagem de 35 dias não foi uma deriva, mas uma digestão.

A prova final estava na última anotação, quase ilegível: "Elas não estão nos consumindo. Estamos nos tornando parte delas. Sinto o tempo dos outros... tantos voos perdidos... o Águia 19... o Star Dust... eles estão todos aqui, presos na teia. É um ciclo. Elas devolvem as carcaças quando o processo se completa, quando a assinatura temporal do objeto se alinha novamente com o ponto de origem. É a única maneira de se livrarem do que não podem digerir: a matéria."

O Voo 305 não foi uma exceção. Foi um sintoma. Um dos muitos objetos que aquela entidade interdimensional, consciente ou não, havia "cuspido" de volta para o nosso continuum após extrair sua essência temporal. Os esqueletos eram a parte indigesta, a matéria-prima descartada após o banquete.

A investigação foi arquivada como "inexplicável" e o hangar foi lacrado. Mas na véspera do aniversário de 36 anos do desaparecimento, Almeida recebeu um pacote anônimo. Dentro, havia uma única foto, granulada e antiga, tirada do arquivo de um aeroporto na década de 50. Mostrava um hangar, com um avião de modelo antigo sendo rebocado para dentro. Do lado de fora, um homem de macacão olhava para a câmera.

Era o mesmo homem, com a mesma idade, que Almeida havia entrevistado três semanas antes: um dos engenheiros de manutenção que primeiro entrou no Voo 305 após seu reaparecimento.

A entidade não devolvia apenas os aviões. Ela, às vezes, devolvia pessoas. Pessoas que, talvez, tivessem sido "digestas" de forma diferente, ou que haviam aprendido a navegar naquela teia temporal. E elas estavam aqui, entre nós, vivendo vidas normais, carregando consigo o segredo e a memória de todos os que se perderam nos céus.

Almeida queimou a foto e apagou todos os seus arquivos. Ele olhou pela janela de seu escritório, para o céu noturno. Cada estrela cadente, cada luz distante de um avião, agora parecia uma pergunta sem resposta. O maior mistério do Voo 305 não era para onde ele foi, mas o que ele trouxe de volta.

E a pergunta que o atormentava enquanto fechava as cortinas não era sobre o passado, mas sobre o futuro: a próxima vez que o "céu se abrisse", o que mais, além de esqueletos, seria devolvido à Terra? E estaria ele, ou alguém que ele amava, preparado para recebê-lo?

O avião era apenas o começo. O verdadeiro conto estava apenas começando a ser escrito, não nos livros de história, mas nas sombras do mundo real, por passageiros que nunca realmente desembarcaram.
Continuação da história na Página Facebook 

Fonte: Autor Desconhecido 

Assunto: 📢 Não fique de fora! Siga a página do Portal 364!

Olá! 😊
Que tal acompanhar as melhores notícias, dicas e novidades no Portal 364?

Seguindo nossa página, você fica por dentro de tudo que acontece na região e muito mais!

🔗 Clique aqui para seguir: 👇


Não perca tempo! 📲

#Portal364 #

Postagem Anterior Próxima Postagem