Comissão da Assembleia Legislativa de RO debate a desvalorização do leite. Produtores recebem apenas R$ 1,70/litro, abaixo do piso estadual, e alertam para o abandono das fazendas. Deputados prometem rever incentivos fiscais.
Porto Velho, RO - A crise no setor leiteiro de Rondônia foi tema de um debate urgente na Comissão de Agropecuária da Assembleia Legislativa (Alero) nesta terça-feira (21). Produtores relataram um cenário de "UTI", com preços pagos pelas indústrias caindo para cerca de R$ 1,70 por litro, valor inferior ao mínimo estabelecido pelo Conseleite. A situação, segundo eles, está levando à falência de famílias e acelerando o êxodo rural no estado.
Produtor em Desabafo: "Estamos na UTI", Diz Manoel Cuiabano
O produtor rural Manoel Cuiabano, representando a Associação dos Pecuaristas, foi direto ao expor a gravidade da situação. Ele confirmou que o litro do leite está sendo comprado a R$ 1,70, mesmo com o piso estadual sendo maior.
"Essa desvalorização nos coloca na UTI. O governo é sócio majoritário da indústria de laticínios, e nós, produtores, somos os menos valorizados. Se não houver produção, não há arrecadação. Precisamos de socorro", desabafou Cuiabano.
Ele estimou que cerca de 20 mil famílias ainda resistem na atividade, mas muitas estão sendo forçadas a migrar para outras culturas ou a simplesmente abandonar o campo, intensificando o êxodo rural.
Parlamentares Reconhecem a Crise e Prometem Ação
Os deputados presentes reconheceram a injustiça e a necessidade de medidas concretas.
Pedro Fernandes (PRD) criticou a falta de transparência e a disparidade de preços em relação a outros estados. "O produtor não sabe quanto vai receber ao final do mês. A indústria tem incentivos, mas isso não se reflete no bolso de quem está no campo", afirmou. Ele defendeu uma revisão nos incentivos fiscais concedidos ao setor industrial.
Delegado Lucas reafirmou o compromisso da Comissão: "Esse espaço foi aberto justamente para ouvir quem precisa ser ouvido. A Comissão de Agricultura está 100% à disposição".
Cláudia de Jesus (PT), presidente da Comissão, propôs uma reunião ampliada com órgãos estaduais como Sefin, Seagri, Emater, e entidades do setor (Conseleite, Faperon, Fetagro). O objetivo é construir uma proposta conjunta para apresentar ao Governo do Estado. "Precisamos estudar a legislação e ouvir todos os lados. A tendência é a produção cair se nada for feito", alertou.
Lei de Incentivos Fiscais Sob Scrutínio
O debate também colocou em xeque a eficácia de leis estaduais, como a Lei 1.473/2025, que concede benefícios fiscais às indústrias. Os produtores argumentam que essas isenções não têm gerado contrapartidas suficientes, como a geração de empregos ou a melhoria dos preços na ponta da cadeia.
Como solução imediata, Manoel Cuiabano pleiteou o subsídio de 50% na aquisição de matrizes leiteiras, um investimento para aumentar a produtividade e ajudar o setor a "sair da UTI".
Próximos Passos
A Comissão de Agropecuária marcou sua próxima reunião ordinária para o dia 28 de outubro, dando continuidade aos esforços para encontrar soluções para uma das atividades mais importantes da economia rural de Rondônia.
Fonte: Portal364